sexta-feira, 25 de março de 2011

Mundo Cão

O que podemos compreender através dessa frase? Geralmente estamos falando sobre as atrocidades do mundo, do mundo? Porque usamos a palavra cão para simbolizar a maldade humana. Porque são os humanos que fazem do nosso mundo um lugar feio, triste e não o cão.
                Faz alguns anos e até hoje vem a minha mente uma triste imagem, talvez a que mais me cause impacto apesar do tempo percorrido. Estava com minha família em Embu das artes, encantada com aquela profusão de formas, cores , sons, a até cheiro do incenso que se vende nas barraquinhas alternativas, quando alcancei ver uma pequena multidão de pessoas em torno de uma cadela de raça grande, talvez uma labradora não estou muito segura. Havia cerca de cinco ou seis filhotes junto à mãe que nesse momento os amamentava. Neste instante, um homem com seu filho, um garoto de cinco anos mais ou menos escolhia um dos filhotes, que foi arrancado das tetas da mãe. O pai pagou a nova aquisição do filho e se afastou. Enquanto isso segui o olhar da mãe acompanhando  resignada  a separação de seu filho. A cadela e os filhotes estavam ali para serem vendidos, para satisfazer o capricho do filho. Não posso julgar o destino desse filhote, se o garoto teve carinho e cuidados para como o filhote ou livrou-se dele assim que percebeu que fazia babunça, destruía coisas, fazia cocô e xixi em qualquer  lugar. Apenas tenho certeza da cena que até hoje me acompanha... o olhar da cachorra acompanhando seu filhote pela ultima vez. A angustia da cachorra não se resumiu apenas a esse episodio . ocorreu, outras vezes, cada vez que uma criança se encantava com aquele pequeno ser, cada vez que alguma madame ou mesmo algum homem de posse adquirisse um desses filhotes para mostrar  status na sociedade. Talvez você que tenha resolvido ler  esse desabafo  além do significado do titulo,  esteja criticando minha observação, talvez você irá afirmar que tem pessoas que amam os cães. Não discordo de você, eu amo esses animais, porém  será que necessitamos que obriguem as cadelas com pedigree a se reproduzirem para satisfazer nossa vaidade?  Se realmente aquele garoto  da feira de Embu amava os animais ou seria apenas mais um capricho dele ou quem sabe de seus pais? Se realmente amamos os cães que diferença faz que seja um vira-lata ou um cão de raça? então porque não um desses inúmeros cães de rua que sofrem toda espécie de maus tratos e pedem com olhar alguém que os acolha?
Creio que foi na última quarta feira, vi em um jornal televisivo o apresentador informar uma nova conquista de nosso pais. O Brasil se encontra no quarto lugar em criação de “pets” no ranking mundial. Que orgulho! Somos realmente grandes em tudo! maior carnaval do mundo, maior safra de grãos da história, maio produtor de petróleo em profundidades, maior importação superávit na balança comercial. Um país democrático, abençoado por Deus e bonito por natureza. Gigante pela própria natureza, reza nosso hino nacional. Porém os noticiários esquecem de mostrar os números de maior importância para nossa sociedade. Um país que tem um dos piores níveis de educação do mundo se encontra mesmo abaixo de países mais pobres que o nosso. Ah! Perdão! já não somos mais tão pobres assim, somos emergentes, até fomos merecedores da visita do homem mais poderoso da terra em nosso país. Porém esse  pais , ainda não sente a importância da educação  das crianças e dos jovens que vão construir nosso futuro. Não é necessário recorrer aos números de pesquisa  e  falo literalmente de cadeira... sou professora... de filosofia. Podem imaginar que alunos que passaram por mim e outros professores de áreas diferentes vão receber o certificado de segundo grau no final de 2001 assim como ocorreu em anos anteriores, sem  mesmo interpretar uma única frase seja no contexto de linguagem, matemática ou filosofia. Eles, da mesma maneira que se promovem no segundo são capazes de se graduarem em uma universidade, podem  se tornar médicos, provavelmente do SUS, enfermeiras  como aquelas que não  sabem distinguir medicamentos que acometem a morte de crianças por simples descuido, advogados de porta de cadeia sem ética, engenheiros  que mal sabem operar uma calculadora, políticos que nem mais se preocupam em ser flagrados em mentiras na hora de nos pedir votos . Afinal de contas vivemos em um país aonde prevalece a “Lei de Gerson” aquela que se tem que levar vantagem em tudo. E mais uma vez esse provável, porventura paciencioso leitor, quem sabe pode vir a me perguntar. Ora se você percebe a situação catastrófica que se encontra nossa educação por que não faz alguma coisa? Poderia citar aqui inúmeros motivos  para tomar a mesma atitude de Pôncio Pilatos-  lavar as mãos... afinal eu não recebo questionamento do meu patrão... muito ao contrário, recebo bônus para promover alunos para série seguinte.
 Porém felizmente ou infelizmente eu não sou acomodada, muito ao contrário, mas luto praticamente sozinha. Ainda ontem,  escrevi um relatório que espero entregar ao novo secretario da educação de São Paulo denunciando a real situação de aprendizagem em sala de aula e colocando a disposição meu cargo de professora de filosofia, categoria O, para quem não sabe o professor que não pode ter falta médica pois isto seria automaticamente rescisão de contrato. Como tenho ética, não vou usar desse artifício, prefiro esclarecer o motivo de meu desligamento do quadro do funcionalismo publico: ou seja, me recuso a fingir que ensino.
Porque tudo isso agora, esse desabafo, essa conversa sobre educação, sobre animais. Por que minha decisão  de denunciar a educação escolar ocorreu ontem dia 24 de março, e também por hoje meu cãozinho foi atropelado e morto,  segundo relatos por uma motocicleta. Detalhe ele estava na calçada quase em frente a própria casa. Foi  descuido de minha parte talvez sim, porém sou motorista e acho até difícil atropelar um cão sem querer a não ser que seja a noite nas grandes rodovias. Não quero julgar, mas pode ter sido proposital. Talvez nunca eu venha saber, a única coisa que sei é que essa criatura com certeza passou por uma instituição de ensino. Minha rua é muito calma em relação  a transito. Maximiliam foi o primeiro cachorro atropelado e morto nesta rua, moro aqui há  25 anos. Creio que até agora não caiu minha “ficha” . Max, viveu comigo quase como uma sombra minha por 12 anos, a única coisa que consigo neste momento é desabafar escrevendo o que talvez venha a ser um blog,  que se lido por  alguém em  qualquer lugar desse mundo  que compreenda o idioma português,   queira ser uma voz a mais a denunciar a podridão de nossa sociedade. Esse relato eu dedico ao meu cãozinho Maximiliam que partiu, deixando alegres recordações a mim e a todos que tiveram a oportunidade de conhece-lo.

2 comentários:

  1. Lamento pelo Max. Lamento, também, pelos educandos de São Paulo que perdem uma profissional preocupada com a formação deles como cidadãos. Seu texto expôs uma terrível verdade que se projeta no futuro do País. Não temos educação. Não formamos cidadãos. A preocupação governamental se resume a ter bons índices estatísticos para apresentar como bons resultados, mesmo sabendo não ser uma verdade. Trágico, como diz um personagem da TV.

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  2. Querida, compartilho não somente a dor da perda do amado Max, mas também a revolta e indignação, de sermos professoras em um país que não está preparado para receber coisas boas. Portanto, sei do seu sentimento, uma vez que aquilo que sentimos e vibramos, entõa na mesma sintonia.

    Grande abraço

    Angeles

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